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Activismo não é bem visto pela sociedade portuguesa, queixam-se activistas

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O activismo não é bem visto pela sociedade portuguesa, em geral, e a repressão dos que agem pela mudança tem vindo a aumentar, consideram activistas entrevistados pela agência Lusa.

João Joanaz de Melo, 61 anos, do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), diz que “o activismo, genericamente, é mal visto pela sociedade” portuguesa, porque o sentido de comunidade ainda é “muito incipiente” e esta forma de intervenção “não é treinada, não é acarinhada”.

João Labrincha, 41 anos, da Academia Cidadã, também considera que “não é particularmente bem visto”, porque continua “a haver uma forte influência de um pensamento que vem do tempo do fascismo e que se reflecte numa falta de participação crónica das pessoas”, em frases de antigamente como “o trabalho é que devia ser a tua política” e “não há uma cultura de compreensão da importância deste tipo de participação”.

“É assim desde há 150 anos para cá”, adianta João JM, acrescentando faltar “a postura” de, em vez de só criticar, “tentar fazer qualquer coisa para melhorar a situação que pode ser confrontar os políticos ou fazer alguma coisa no terreno”.

Ressalva que “não deixou de haver alguma solidariedade ou alguma generosidade até”, mas “falta capacidade para o compromisso”, para o trabalho continuado, por exemplo, numa organização, que exige tempo, gasto por muitos a trabalhar ou com a família.

Os políticos também podem mostrar desinteresse em relação às reivindicações dos activistas, concordam.

João L ficou decepcionado quando soube que, passados três anos de terem sido recolhidas no âmbito da manifestação “Geração à Rasca” (da qual foi um dos principais rostos) e arquivadas na Biblioteca do Parlamento “milhares de propostas de pessoas de todo o país”, apenas três deputados, “dois do Bloco de Esquerda e um independente”, as tinham consultado.

E João JM lamentou que os principais partidos com representação parlamentar não tenham recebido os representantes do GEOTA a propósito das últimas legislativas. “Lembro-me que quando foram as eleições legislativas em 1995, nós tivemos uma reunião de oito horas com o António Guterres e outra reunião de oito horas com o Fernando Nogueira”, líderes do PS e do PSD, respectivamente.

Além disto, a repressão dos activistas tem vindo a aumentar nos últimos anos, defende Patrícia Filipe, 44 anos, presidente da Direcção da Amnistia Internacional Portugal e a única que respondeu à Lusa por correio electrónico.

“Muitos Governos têm aprovado leis que limitam a liberdade de manifestação e agravam as penas para manifestações consideradas ilegais. Também campanhas de desinformação e propaganda procuram deslegitimar os movimentos activistas”.

Inês Teles, 34 anos, do movimento ambientalista Climáximo, reforça: “Aqui em Portugal e noutros países da Europa, como na Alemanha e no Reino Unido, essa repressão tem-se intensificado, sem dúvida”.

Admite que o aumento da extrema-direita na Europa nos últimos anos “torna as coisas ainda mais complicadas”, mas considera que “a repressão está bem espalhada desde a direita até ao centro esquerda”.

“Independentemente da cor que lá esteja, estão a defender os interesses do “status quo” e, portanto, não toleram que haja quem os desafie”.

Segundo João L, “há infelizmente uma tendência para piorar”, embora considere que “nunca foi fácil a vida do activista em Portugal”.

Indica que as “forças políticas a crescer (…) não gostam de participação política, pelo contrário,” e a sua “capacidade de influência faz com que o caminho dos activistas vá sendo mais difícil”, alertando para “determinados discursos de legitimação da repressão”.

“Ultimamente têm estado a acontecer coisas que não são muito comuns e que, em termos do nosso Estado de direito, são um bocado preocupantes”, adiantou, referindo que “activistas do Climáximo” foram “presos antes de fazerem qualquer tipo de manifestação”.

João L referia-se a um incidente ocorrido a 8 de Outubro de 2023, quando o Climáximo denunciou que 12 activistas do movimento foram “detidos” sem “justificação legal” quando se encontravam perto da partida da maratona da EDP, em Cascais.

A PSP confirmou ter “interceptado vários activistas” do Climáximo “com tarjas e com tinta”, que se “preparavam para executar uma acção ilícita”, pelo que “foram todos identificados e constituídos arguidos”.

“Há um filme, Relatório Minoritárioonde se prendiam as pessoas antes de elas cometerem os crimes. É muito preocupante, não é?”, questionou.

Aquele filme de Steven Spielberg mostra um futuro onde existe uma unidade da polícia que impede os crimes antes de estes acontecerem com base em precognições, mas verifica-se que o sistema tem falhas. “Não é nada democrático”, insistiu.





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