A procuradora-geral da República aceitou ser ouvida no Parlamento, depois de os deputados terem aprovado, esta quarta-feira, os pedidos de audição do Bloco de Esquerda (BE) e do PAN. Mas pede que a audição não ocorra para já, visto que o relatório de actividades do Ministério Público (MP) — que os bloquistas pediram que Lucília Gago apresente — ainda não está terminado, embora o prazo final para ser divulgado fosse a 31 de Maio.
Na resposta à comissão dos Assuntos Constitucionais, a que o PÚBLICO teve acesso, o secretariado da procuradora-geral indica que Lucília Gago tem “disponibilidade para aceitar o convite para uma audição a ter lugar na comissão” dos Assuntos Constitucionais.
Mas “apesar de expressar disponibilidade para comparecer na data proposta”, a procuradora-geral “ousa sugerir que a audição aprovada possa ocorrer após a conclusão” do relatório anual de actividades do MP relativo a 2023, que o BE pediu que Lucília Gago apresente na audição. O pedido de audição do BE tinha carácter de urgência e os deputados tinham a expectativa de que Lucília Gago fosse ouvida em Julho, antes da interrupção dos trabalhos parlamentares para a pausa de Verão, mas a audição, poderá, assim, ocorrer depois disso.
Segundo o estatuto do MP, compete ao procurador-geral “elaborar o relatório anual de actividades do Ministério Público e proceder à sua apresentação institucional, bem como à sua divulgação pública”, “até ao dia 31 de Maio de cada ano”. Já se passou mais de um mês, mas, de acordo com o e-mail enviado à comissão, o relatório ainda “se encontra em fase final de elaboração”, sendo que será, “previsivelmente, ultimado dentro de escassas semanas”.
Foi sobre este relatório e para que preste “os esclarecimentos que se revelem necessários” que o BE pediu para ouvir Lucília Gago com urgência. No requerimento, o partido sinaliza que, “apesar de a lei prever que, além de divulgado publicamente, este relatório seja apresentado institucionalmente, a verdade é que a Procuradoria-Geral da República se limitou, no passado, à publicação deste relatório na sua página da internet e que, desde 2019, nem esse parcial cumprimento do Estatuto do Ministério Público teve lugar”.
Os bloquistas defendem ainda que estes relatórios contribuem “para uma maior transparência e publicitação da actividade” do MP, “que se torna tanto mais pertinente quanto maior é a mediatização da justiça, designadamente dos mega processos”, e para “o fortalecimento da confiança da cidadania portuguesa na justiça”. E consideram, por isso, “oportuno e pertinente” que Lucília Gago seja chamada.
Também o requerimento do PAN para chamar Lucília Gago ao Parlamento teve “luz verde”, mas com o objectivo de fazer um balanço da aplicação da lei da organização de investigação criminal e do cumprimento das garantias constitucionais e legais de protecção do segredo de justiça, o que gerou alguma discussão na comissão.
O líder parlamentar do BE, Fabian Figueiredo, defendeu “a sobriedade” do requerimento apresentado pelos bloquistas, distinguindo-o do pedido do PAN e, pela Iniciativa Liberal, Mariana Leitão explicou que não iria inviabilizar o requerimento do PAN, mas avisou que a audição não poderá “entrar em situações concretas”. Já Inês de Sousa Real defendeu o seu requerimento, notando que o documento apresentado pelo partido fala em “convite” e não em obrigatoriedade.
Ambos os requerimentos acabaram por ser aprovados por maioria e com a abstenção do Chega, tendo o líder parlamentar do BE considerado que “faz parte do dever de transparência” da procuradora ir ao Parlamento. O mesmo defendeu, em declarações ao PÚBLICO, Jorge Lacão, antigo deputado socialista, que sustenta que nenhuma dúvida pode subsistir” quanto ao “dever” da procuradora-geral responder no Parlamento, “quer quanto às orientações de política criminal, quer quanto à apresentação do relatório anual” do MP. com Liliana Borges